Ao longo dos últimos 10 anos, o Brasil contabilizou 45.511 atendimentos em emergências da rede pública relacionados a envenenamento que precisaram de internação. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (8) pela Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede). O levantamento mostra que, além de envenenamentos classificados como acidentais ou indeterminados, 3.461 pacientes internados via Sistema Único de Saúde (SUS) sofreram intoxicação proposital causada por terceiros. Com base na série histórica, o país registrou média de 4.551 casos de envenenamento ao ano no período entre 2009 e 2024. “Esse índice fica em torno de 379 registros ao mês e 12,6 ao dia. Isso significa que, a cada duas horas, uma pessoa deu entrada numa emergência da rede pública em consequência de ingestão de substâncias tóxicas ou que causaram reações graves dentro do período analisado”, alertou a Abramede, em nota. No comunicado, a entidade reforça a relevância de médicos emergencistas em situações críticas, incluindo casos de envenenamento, e alerta para a facilidade de acesso a venenos, para a falta de fiscalização e de regulamentação, para a impunidade e para o uso em contextos íntimos – muitas vezes, com motivações emocionais.
O Brasil registrou 341.806 acidentes com animais peçonhentos ao longo de todo o ano de 2023 – sendo 43.933 ocasionados por aranhas. O número representa 12% do total. O Ministério da Saúde alerta que as aranhas respondem, atualmente, como o segundo maior causador de envenenamentos por animais peçonhentos no país, atrás apenas dos escorpiões. “Acidentes por animais peçonhentos representam um importante desafio para a saúde pública no Brasil. Devido à rica biodiversidade e ao clima tropical favorável, o país abriga uma grande variedade de serpentes, aranhas, escorpiões e outros animais peçonhentos, cujas picadas ou mordidas podem resultar em graves consequências para a saúde humana”, destacou a pasta. Segundo o ministério, embora apenas três grupos de aranhas causem acidentes graves no Brasil, todas fazem parte do convívio humano, seja dentro de casa, em quintais ou parques. Os chamados soros antivenenos, incluindo o soro antiaracnídico, são distribuídos exclusivamente via Sistema Único de Saúde (SUS) e podem ser disponibilizados por hospitais públicos, filantrópicos e privados, desde que seja garantido tratamento sem custo ao paciente.
Em Guanambi, o veterinário e presidente do Centro de Controle de Natalidade, Dácio Plácido, falou ao site Achei Sudoeste sobre a onda de envenenamento que já matou dezenas de animais na cidade. Plácido relatou que a situação é grave e ele também teve o seu cachorro de estimação envenenado. “Estávamos viajando e, quando chegamos, me deparei com meu animal, um cachorrinho da raça Spitz Alemão, em quadro convulsivo, característico de intoxicação por chumbinho. Era um animal domesticado, de pequeno porte, que meu filho de dois anos brincava. É revoltante”, contou. Um pedaço de pão foi jogado no quintal da residência da família com o chumbinho. Plácido alertou que esse o crime tem acontecido constantemente na cidade. Para se ter uma ideia, na semana passada, cerca de 30 cães e gatos foram envenenados no Instituto Federal Baiano (IF Baiano), para onde animais errantes são levados após serem resgatados das ruas. O trabalho de castração e vacinação desses animais é feito de forma intermitente há cinco anos na unidade. O veterinário ressaltou que os animais têm direitos e leis que asseguram estes. “Você não é obrigado a gostar do animal, mas tem o dever de respeitar o direito dele. Só uma pessoa sem escrúpulos, um marginal, faz um negócio desse, envenenar um animal. Digno de todo tipo de adjetivo ruim. É crime e isso precisa ser punido, combatido”, apontou.