“Não choveu quase nada este ano. A gente está assim, pagando uns aluguelzinhos aos vizinhos com uma dificuldade muito grande. Sinceramente, a coisa não está fácil. A pastagem quase não criou, não deu mantimento e as coisas estão mais caras. A gente só cria mesmo porque moramos na roça e não tem outro meio de sobrevivência”. Maria Lúcia do Prado, 65 anos, cria bovinos e caprinos em Belo Campo - um dos 76 municípios com situação de emergência por estiagem reconhecida pelo governo federal. Os dados são do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). A estimativa é de que 2 milhões de pessoas já foram afetadas pela estiagem em 2025, segundo a Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec). Atualmente, o maior número de cidades impactadas concentra-se no sudoeste baiano, com 20 municípios afetados. São consideradas em estiagem as localidades acometidas por um período prolongado de baixa ou nenhuma pluviosidade, em que a perda de umidade do solo é superior à sua reposição. As ocorrências mais antigas nos municípios baianos datam de novembro de 2024, totalizando mais de seis meses de escassez. O geógrafo e professor titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Rosalve Lucas, explica que os impactos em relação à estiagem são sentidos inicialmente nas atividades vinculadas às chuvas, como a produção de alimentos, o abastecimento de água e a pecuária. “Tradicionalmente, essas atividades são as primeiras a serem atingidas. Elas são a base e, na sequência, outros setores serão impactados, como a produção de alimentos industrializados, a comercialização de alimentos, a inflação, a qualidade de vida, a saúde. É um efeito cascata e que também vai afetar as grandes cidades; pode até citar o aumento da insegurança alimentar”, salienta Rosalve. No início de maio, Vitória da Conquista, maior cidade do sudoeste e terceira maior cidade do estado, entrou para a lista do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional como cidade em situação de emergência por conta da estiagem. Cosme Lima, de 55 anos, trabalhava com horta e criação de porcos até pouco tempo atrás, mas, com a elevação dos custos de insumos e a escassez de água, precisou abandonar a agricultura. Hoje, ele vive em Belo Campo, onde relata dificuldades no acesso à água potável e enfrenta o alto custo da alimentação animal. “Hoje você paga R$ 85 num saco de ração de milho. Quando chega aqui, está mais de R$ 90. O trigo está R$ 58, a soja R$ 156. Tudo é caro”, relata.